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Estude português com o discurso de Leandro Karnal

“Achei um diamante em forma de texto”, diz Diogo Arrais sobre o discurso de Leandro Karnal que se tornou imortal pela Academia Paulista de Letras

Há nove anos, escrevo esta coluna. Aqui é um lugar que tenho como a extensão de uma sala de aula, o lugar mais sagrado para um professor. Por ser um espaço de educação e afeto, trato o leitor como amigo e aluno.

 

São raríssimas as vezes em que uso a primeira pessoa do verbo, por entender que o conteúdo tem os quês da impessoalidade. Porém, quando a emoção vai ao encontro deste sujeito (amante da Língua Portuguesa), é uma forma de dizer: achei um diamante em forma de texto.

 

No dia de 9 de junho de 2022, na Academia Paulista de Letras, tive a honra de ser um dos presentes à cerimônia de posse do, agora, imortal professor Leandro Karnal.

Lá estava eu, na plateia. Enquanto as sílabas e sentenças eram proferidas, em admirável fluidez, os ouvidos agradeciam perplexos diante de tantas citações elegantes, como:

 

“Louvo meus mestres jesuítas, os quais deixaram um sulco fundo na minha alma. As aspirações inacianas reforçaram minha energia racional e retórica. Relembro a profecia de Daniel: aqueles que ensinam para a justiça brilharão como as estrelas do céu.”

 

Grande escritor, Karnal tem um enorme cuidado em buscar palavras com precisão no sentido: “aspirações que reforçam a energia racional e retórica.” Apaixonado por São Paulo, o discurso revela imensa criatividade em:

 

“O sonho do jovem estudante Anchieta reúne um generoso estuário. Aqui os filhos do cacique Tibiriçá tomavam águas – então confiáveis – do Tamanduateí e do Tietê. Aos hídricos e sonoros topônimos indígenas sobrevieram fluxos do Tejo e do Tibre, algo do Reno, muito do Congo, ondas nipônicas, águas do Titicaca e, sempre, a presença generosa e produtiva dos imigrantes de todo país, especialmente dos nordestinos. O palimpsesto de Andrade é arte-processo que se enriquece com cada nova contribuição.”

 

O texto passa por fatos, por sua biografia, sem esquecer-se da análise apurada:

 

“A fama tem um pouco da fórmula da Teoria do Medalhão, de Machado de Assis. O sucesso pode ser uma gramática desafiadora. A notoriedade ganha sua própria dinâmica e tende a negar oxigênio quando o incauto deslumbrado supõe estar nas alturas. As redes sociais são o Sol que queima a cera de todo Ícaro ousado. Desejo beber a ideia, lacaniana avant la lettre, de Rimbaud em carta a Georges Izambard: “Eu é um outro”. São Paulo gestou muitos sonhos que eu embalava em silêncio.”

 

É raríssimo encontrar textos perfeitos. O que vi e ouvi (tantas vezes!) levou me às lágrimas, já que a busca de um aficionado por palavras é vê-las em sintonia, como a mais pura música clássica.

 

À Academia Paulista de Letras agradecimentos plurais: o amor ao texto há de vencer, sempre!

 

Nota: o discurso completo está no site da Academia Paulista de Letras, na aba “publicaçãoes-discursos”.

 

Com carinho,

DIOGO ARRAIS

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Diogo Arrais

Professor, Autor, Palestrante e Fundador da Etimo.

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